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domingo, 29 de abril de 2012

TCC - Curso de Mariologia - PUC-RS - Da surpresa aguardada à resposta esperada

O estudo das atitudes é importante para que possamos compreender a “humanidade de Maria”, muitas vezes abandonadas ou esquecidas em nome de uma suposta “defesa” da Mãe de Jesus. Apresentar as suas características humanas não retira dela a importância na participação da história da Redenção, mas adiciona uma grande verdade aos seguidores de Jesus Cristo: o serviço da construção do Reino de Deus está acessível a todos que assim o desejarem fazer.
O episódio da anunciação da chegada do Messias, no evangelho de Lucas, apresenta Deus solicitando a “permissão” para alterar o rumo da história humana. Essa solicitação é feita a uma jovem de Nazaré, aldeia da Galiléia, que era dominada pelo império Romano. A jovem estava prometida em casamento a um descendente da casa de Davi, de nome José. O texto abaixo apresenta um diálogo entre o enviado de Deus, o anjo Gabriel, e a jovem escolhida:
“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré. Foi a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José, que era descendente de Davi. E o nome da virgem era Maria. O anjo entrou onde ela estava, e disse: ‘Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!’. Ouvindo isso, Maria ficou preocupada, e perguntava a si mesma o que a saudação queria dizer. O anjo disse: ‘Não tenha medo, Maria, porque você encontrou graça diante de Deus. Eis que você vai ficar grávida, terá um filho, e dará a ele o nome de Jesus. Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dará a ele o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó. E o seu reino não terá fim’. Maria perguntou ao anjo: ‘Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?’. O anjo respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus. Olhe a sua parenta Isabel: apesar da sua velhice, ela concebeu um filho. Aquela que era considerada estéril, já faz seis meses que está grávida. Para Deus nada é impossível.’. Maria disse: ‘Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra’. E o anjo a deixou.” (Lc 1,26-38)
Nesse primeiro trecho, que recebe a denominação “Anunciação”, ou “O Messias vai chegar”, ou ainda “Anúncio do nascimento de Jesus”, dependendo da tradução bíblica utilizada, revela várias atitudes de Maria diante da conversa com o enviado de Deus. Apresenta também algumas de suas características, que são úteis para montar a personalidade da escolhida por Deus para ser a Mãe do Salvador.
A primeira atitude apresentada no texto é de uma jovem que ficou preocupada, intrigada ou perturbada diante da saudação do enviado de Deus. Apesar de seu convívio com Deus através das orações, Maria recebe as novidades que causam-lhe perturbação e, em um primeiro momento, a busca de defesa diante do desconhecido.
Para algumas pessoas, essa perturbação diante do enviado de Deus seria motivo suficiente para dizer que Maria não apresentava confiança em Deus e por isso ela é apenas um instrumento sem valor, mas ao revermos a saudação dada a Maria, podemos analisar que a sua preocupação seria com a elevação de sua pessoa à grandeza de Deus.
Logo na sequencia, é apresentada a segunda atitude de Maria diante da saudação do visitante, a reflexão. Maria nesse momento utiliza-se do silêncio. A resposta imediata causaria um impacto negativo no diálogo, por outro lado a reflexão em silêncio, mesmo que seja momentâneo, leva o visitante a ter que apresentar os motivos de sua presença. Essa reflexão, que Maria fez durante o diálogo, apresenta ainda duas atitudes que não são citadas no texto, mas são claramente compreendidas, o silenciar e o escutar.
O silenciar e o escutar mostram a característica de paciência da jovem diante uma nova proposta. Ambas colaboram para a reflexão, pois a comunicação é simples e direta, ou seja, apenas o anjo fala. Poder-se-ia dizer que a Maria tem uma atitude de passividade, diante da conversa com o anjo, mas a realidade é outra, como veremos a seguir.
Após a apresentação da proposta de Deus, por seu enviado, Maria passa a questioná-lo. Eis outra atitude que leva muitas pessoas a diminuírem o valor de Maria na história da Redenção, com a justificativa de que Maria não tem direito a questionar as decisões de Deus. Entretanto a história do povo hebreu apresenta uma contrariedade a essa afirmação. Ao questionar os desígnios de Deus, Maria toma para si as atitudes de Abraão quando Deus decidiu acabar com Sodoma e Gomorra. (Gn 18, 16-33)
Logo, podemos concluir que questionar a Deus não é desconhecer sua a onipotência, mas sim a busca do conhecimento que ainda não se possui. Quando adquirimos conhecimento, podemos responder conscientemente a uma proposta que nos é feita por Deus. E assim agiu Maria, buscou as respostas para suas dúvidas.
Com o questionar: “Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?”, Maria apresenta o falar verdadeiro e sem medo. Maria reconhece-se como uma ignorante a alguns pontos da proposta de Deus para conceber ao Seu Filho e, quer que o enviado fale como ocorrerá. Maria sabia que a relação sexual teria que acontecer para haver a concepção e, ao exigir que o anjo Gabriel fale sobre o assunto, ela exige que tudo seja-lhe revelado em relação ao projeto de Deus.
Tendo conhecimento da proposta de Deus, aguarda-se de Maria uma resposta. A resposta é afirmativa e dada de maneira simples, mas revela a atitude de uma pessoa ativa, comprometida com o rumo da sociedade. No mesmo momento Maria apresenta a valorização daqueles que servem aos demais, ao se definir a “Escrava do Senhor”, Maria antecipa a resposta sobre a discussão de quem é o maior no Reino de Deus (Mt 18, 1ss ; Mc 9, 30ss ; Lc 6, 40ss ; Lc 7, 28 ; Lc 9, 46ss ; Lc 22, 24ss). Maria, reconhecendo-se como Escrava do Senhor, sabe que deverá servir aos demais e que seu exemplo ajudará a construir o Projeto da Redenção. Essa atitude de Maria influenciará no caráter de Jesus e em suas atitudes.