POR GREGORIO
DUVIVIER, na “Folha” de hoje (10/08/2015).
A primeira vez que me
deparei com uma urna eletrônica foi para votar no Lula.
E Lula se elegeu,
depois de três tentativas malfadadas.
Lágrimas grossas
escorriam pelo meu rosto: com a prepotência característica dos 16 anos, tive a
certeza de que era o meu voto que tinha feito toda a diferença.
A rua estava cheia de
pessoas da minha idade que tinham essa mesma certeza.
O Brasil tinha acabado
de ganhar uma Copa do Mundo, mas a euforia agora era ainda maior: foi a gente
que fez o gol da virada.
Parecia que o Brasil
tinha jeito, e o jeito era a gente –essa gente que nasceu de 1982 a 1986 e votava agora
pela primeira vez.
Acabaram-se os
problemas do Brasil –a gente chegou.
Lembro das ruas
cheias, das bandeiras do PT, lembro de abraçar desconhecidos na Cinelândia
–Lula lá, brilha uma estrela.
Logo vi que não era o
meu voto que tinha feito o Lula se eleger, nem o dos meus amigos, nem o da
minha geração.
Quem elegeu o Lula
–isso logo ficou claro– foi o José Alencar, os Sarney, o Garotinho, foi aquela
Carta aos Brasileiros e a promessa de que o Lulinha era Paz, Amor e
Continuidade.
Sobretudo
continuidade.
Lula só alugou esse
apartamento por quatro anos porque assinou um contrato de locação onde prometia
entregar o imóvel i-gual-zi-nho.
E Lula, por quatro
anos, foi um inquilino dos sonhos –tanto é que renovou o contrato e ainda foi
fiador da locatária seguinte.
Fizeram algumas
mudanças –as empregadas passaram a ganhar mais–, mas não fizeram o mais
importante: uma desratização. Muito pelo contrário: os ratos de sempre fizeram
a festa.
Caros amigos que
odeiam o PT: podem ter certeza de que odeio o PT tanto quanto vocês –mas por
razões diferentes.
Odeio porque ele
cumpriu a promessa de continuidade.
Odeio porque ele não
rompeu com os esquemas que o antecederam.
Odeio por causa de
Belo Monte e do total descompromisso com qualquer questão ambiental e indígena.
Odeio porque nunca os
bancos lucraram tanto.
Odeio pela liberdade
e pelos ministérios que ele deu ao PMDB.
Odeio pelos
incentivos à indústria automobilística e à indústria bélica.
Odeio porque o Brasil
hoje exporta armas para Iêmen, Paquistão, Israel e porque as revoltas do
Oriente Médio foram sufocadas com armas brasileiras.
Odeio porque acabaram
de cortar 3/4 das bolsas da Capes.
O PT é indefensável
–cavou esse abismo com seus pés.
Mas assim como não
fomos nós que elegemos Lula, engana-se quem vai às ruas e acha que está tirando
Dilma do poder.
Quem está movendo
essa ação de despejo são os ratos que o PT não teve coragem de expulsar.